O futuro da Igreja e, consequentemente, da evangelização no mundo passa pela comunidade cristã, onde ninguém é um desconhecido para o outro, onde não existe o anonimato, onde o encontro com Cristo ressuscitado é vital e irreduzível ao mundo das ideias.
Ao longo da história, a Igreja permaneceu sempre na primeira linha de combate em seu impulso evangelizador para levar ao homem à salvação que vem de Jesus Cristo. Na medida em que a comunidade dos crentes foi fiel ao desígnio e à graça de Deus, nela transpareceu e deu-se o principal milagre moral que é a comunhão amorosa entre as pessoas. Nesse sentido, os sinais dos tempos apontam não mais para uma Igreja de massas e de números, mas para uma Igreja de comunidades cristãs espalhadas por toda a terra que, à semelhança do grão de mostarda que morre para dar fruto, sejam sinal da unidade e do amor de Cristo para com a humanidade. Os modelos antigos de pastoral aos quais a Igreja recorria para não sustentar seus fiéis não têm mais futuro neste mundo globalizado. Hoje, mais do que nunca, a Igreja é chamada a retornar às suas raízes, isto é, a voltar para uma espiritualidade de comunhão alicerçada na iniciação cristã.
As necessidades e o ambiente cultural que nos envolvem deixam reluzir os efeitos de uma sociedade desumanizada e dessacralizada que precisa com urgência do amor exprimido e vivido no sacramento da eucaristia. Desse modo, o futuro da Igreja, e conseqüentemente da evangelização no mundo, passa pela comunidade cristã, onde ninguém é um desconhecido para o outro, onde não existe o anonimato, onde o encontro com Cristo ressuscitado é vital e irreduzível a idéias ou conhecimentos teóricos. A comunidade – corpo de Cristo - humaniza e reconstrói assim no homem a imagem de Deus, cujo amor é o fundamento de todas as coisas. Mudando o coração do homem, sem dúvida alguma mudam também as suas relações com as demais pessoas e com a criação que o circunda.
Os mistérios divinos encerrados na eucaristia nos fazem presente o sentido que tem a nossa vida temporal, porque nos dirigem o olhar para a vida divina que Deus preparou para nós desde antes da criação. Podemos entrar em comunhão com Deus se reconhecemos no rosto do irmão àquele que se fez menininho e abrangível para amar-nos e ser amado. No mistério da encarnação, cujo solene momento celebrar-se-á no Natal, Deus tornou-se frágil e dependente a fim de vencer as nossas reticências e fazer-se amar por todos. Precisamente, os mistérios de Jesus que celebramos no Natal deveriam levar-nos a ver no irmão alguém que faz parte de mim e que precisa da minha amizade, até o ponto de ser acolhido e valorizado como dom de Deus para mim. Será desse modo como o egoísmo, a competição e as rivalidades cairão por terra diante daquele que, sendo Deus, se fez pobre para enriquecer-nos a todos nós com a sua natureza divina, que nunca morre.
O Espírito Santo continua suscitando novas comunidades e movimentos eclesiais dentro das paróquias para que as Igrejas locais cumpram a sua missão como 'casas e escolas de comunhão' mediante o fortalecimento dos seus vínculos com a Igreja universal em meio desta cultura caracterizada pela desunião e a divisão. Será assim que a Igreja renovar-se-á em sua vida e ardor missionário, tendo a eucaristia como centro e ápice da sua entrega por amor a Deus e ao mundo. No termo da história humana, já não haverá mais a eucaristia como sacramento porque viveremos na presença de Jesus enquanto eterno dom de amor – comunhão, pois como diz São Paulo: “A caridade jamais passará” (1Cor 12, 8). E até esse fim dos tempos, a Igreja é e continuará sendo sinal de contradição e sinal do grão de mostarda que, morrendo, dará frutos de vida eterna em beneficio da humanidade que a persegue e a despreza.
Marcos Sabater Muñoz
Seminarista do Seminário Redemptoris Mater
Seminarista do Seminário Redemptoris Mater
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